segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O COMPLEXO DE MINERVA

O COMPLEXO DE MINERVA

Ms. Alberon Lemos[1]

            No meio acadêmico é extremamente comum os docentes se depararem com afirmações do alunado expondo suas eventuais deficiências como barreiras intransponíveis; falas como “eu não consigo entender este texto” ou “não sei colocar minhas ideias no papel”, demonstram não só uma dificuldade de leitura e escrita por parte dos discentes, mas também uma postura assaz corriqueira e preocupante por parte do alunado em encarar o processo de aprendizagem e desenvolvimento intelectual como características imediatas.
            Costumo caracterizar esta postura de não estar atento para o percurso do desenvolvimento intelectual de “Complexo de Minerva”. Na mitologia romana, Minerva (Atena para os gregos) era a deusa da sabedoria, filha exclusivamente de Júpiter (Zeus) e que nascera já adulta e com indumentária de guerra, emergindo de uma fenda na coxa de seu pai.
            Muitos alunos se comportam como se fossem Minervas ou anti-Minervas; que ou dominam o ato da escrita, da crítica, da leitura ou que são incapazes de desenvolverem essas aptidões, encarando o ato de aprender não como um processo, mas como um dom. Nenhum intelectual nasceu pronto do ventre de sua genitora, nenhuma teoria ou conceito surgiram por lances de mágica. Todo conhecimento é fruto de um processo de construção onde não só êxitos são presentes; as derrotas, frustrações e erros também são etapas necessárias na produção do saber.
            Sendo assim, devemos nos libertar de qualquer aura de auto-suficiência, de pudores e de medos e – mesmo sem estarmos vestidos com a armadura de Minerva – nos entregar à aventura da construção do saber; encarando-a como uma jornada onde cada vitória deve ser comemorada e as falhas avaliadas de modo a proporcionarem estímulos.
            Então, vamos à luta todos com a consciência de nossa condição de aprendizes; essa consciência é um pressuposto indispensável à construção do saber e à transformação da nossa realidade pessoal e social.


[1] Mestre e doutorando em História pela UFPE e professor da UPE – Campus Mata Norte.

3 comentários:

  1. Uma vez um professor me disse que a questão intelectual é sucinta ao amadurecimento pessoal e reflexivo diante das questões estudadas ao longo de uma vida. Hoje não me preocupo mais em saber as respostas sobre questões que me afligem seja em qual esfera do conhecimento for, mas sim, buscar diante do conhecimento adquirido compreensão profunda das próprias questões. Assim as respostas afluirão naturalmente e com isso eu venho tentando estabelecer um elo entre a reflexão e a profusão de conhecimento adquirido. Creio que o aperfeiçoamento intelectual deve ser livre de qualquer processo taxativo. Entretanto, a pressão que se impõe, tanto sobre o discente/docente e os prazos a serem cumpridos mais atrofiam do que constroem de fato o saber ou trazem algo de novo no "front intelectual acadêmico". O que de fato acaba pressionando ambos. Creio que a sociedade pós-moderna também traz consigo este aspecto negativo em sua cobrança pelo conhecimento/dinâmico de acordo com a velocidade impostas pelo tempo que estamos vivendo. Acho necessário uma maior reflexão e menor cobrança para que de fato as amarras da auto-suficiência realmente tragam algo de mais significativo na construção do conhecimento e amadurecimento intelectual do homem.

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  2. Não se trata de uma questão humanista ou apenas contemplativa da vida ou mundo ao seu redor como filosofia, mas livrar-se realmente de conceitos pre concebidos de transformações e síndromes imediatistas ao ser humano. Visto que, em nada contribuem para transformação e avanço do indivíduo em sua essência.

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  3. Texto perfeito. Espero um dia alcançar um tanto dessa perfeição. *-*

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